"Era só fome o que eu sentia, fome. Uma fome horrível, que poderia chamar de carência, necessidade, impotência, frustação, vazio, a qual me obcecava, roendo-me, e que logo iria me engolir.
Era ela que arruinava meus dias, que corrompia minhas noites, mantendo-me acordada por longas horas e malditas horas, longas horas de tortura, nas quais eu poderia encontrar algum alento, mas que descoloriam o amanhecer e o céu, que contaminavam as músicas mais alegres, transformando as melodias para dançar em marchas fúnebres, filmes cômicos em tragédias gregas, natureza em deserto e meus sonhos em pó.
Era como uma febre, uma bad trip, uma crise de abstinência, essa fome impossível de ser saciada que me possuía.
Eu detestava minha vida."
"- Quero trabalhar no cinema?
- No cinema... Porque? Pra ficar rica, famosa, pra que amem você?
- Não.
- Por quê?
- Pra mudar de vida. A cada papel. Mudar de pele. Mudar de passado. Mudar de nome. Mudar de história. Mudar de rosto. Eu detestei minha vida, quero experimentar outras."
Lolita Pille, em Bubblegum.