segunda-feira, 3 de agosto de 2009

para ler ouvindo: The Beatles - Yer Blues

É que eu estava lá, sentada. Tinha acabado de chegar e como sou tão eu, era normal ser a primeira entre as quatro. Tinha um sorriso em meu rosto que eu não compreendia, um casal ao meu lado que invejava a qualquer que passava, um cigarro em minha mão e um copo de vinho a minha frente. Ainda sorria, apesar da expressão blasé.
Ficava eu observando, observando os carros, quem chegava, quem saia da loja em frente e o que comprava - as criticava pelo mal gosto. Observava o casal ao lado que agora, brigavam pelo tipo de champanhe que cada um queria - ele cedeu, e escolheram aquele que ela queria, para mais tarde, ele escolher o que ele queria na cama já que ele era homem e ela uma putinha qualquer. Também ria deles, finjindo a perfeição.
O telefone tocou, era uma mensagem da amiga:
- Não posso ir querida, surgiu um imprevisto aqui, desculpinha!

Também, já sabia eu que as quatro juntas de novo, só por milagre. Havia brigas e o ser humano é incapaz de perdoar e parece nunca perceber que insiste nos mesmos erros. Passado é passado, viver com raiva não leva a nada, queridinha.

Agora era oito horas da noite... "Duas horas passadas e ninguém chegou", quando outra mensagem chegou:
- Ai amor, onde você está? Estamos te esperando aqui em frente ao Shopping, não vem?
- Shopping, mas que infernos...?
- Ah esqueci de te avisar, a gente vai lá no show do Roupa Nova. Vamos?
Ignorei, mas era sempre assim. Pra que falar que já estava lá, que já tinha terminado com uma garrafa de vinho e faltava dois cigarros para terminar aquele maço? Não, eu esqueço. Há nada que posso fazer... Brigar? E aí então, com quem vou sair? Quem vou chamar quando quiser amenizar pelo menos um pouco essa solidão que me mata a cada dia mais? E afinal, elas não iriam mudar os planos por mim.

Era meia noite quando me expulsaram do café, era meia noite e quinze quando arrumei um táxi, era meia noite e trinta e quatro quando cheguei ao bar. Era meia noite e trinta e seis quando avistei as quatro sentadas com suas cervejas e amantes por perto.
Era meia noite e quarenta quando elas viram o ódio em meus olhos e ouviram o quanto as odeio. Era meia noite e cinquenta quando pude, enfim, sentar sozinha em frente ao bar e encarar o fato de que nada disso serve para mim.